Hoje tive uma experiência muito ruim. Mas antes, vou atualizar a todos para contextualizar esta experiência. Uma das razões pelas quais eu estou escrevendo é a total falta de informação que nós temos, mesmo na internet sobre a coqueluche (pertússis). Estou escrevendo para mostrar o aspecto prático da doença e de sua progressão. Como existe um farto material na internet sobre as causas, deixo alguns links no final para orientação geral.
Há uns dois meses, minha filhinha (3 anos), apresentou sintomas de tosse seca persistente, dor de garganta e no ouvido e um pouco de febre (37 ºC). Eu e minha esposa a levamos à pediatra, ela diagnosticou como uma infecção na garganta e no ouvido e prescreveu um antibiótico, um corticoide e um anti histamínico (antialérgico). Em uma semana, todos os sintomas regrediram e não mais voltaram, exceto a tosse, que perdurou deste jeito por mais um mês. Passado este mês, a minha filha teve um acesso de tosse muito forte enquanto dormia, que inclusive provocou o vômito. A levamos ao pronto-socorro e o médico prescreveu uma inalação com corticoide. Aí se seguiram algumas semanas de verdadeiro inferno: a tosse se dava em surtos e fazia ela perder o ar. Corremos com ela ao pronto socorro umas quatro vezes nas duas semanas subsequentes, e remarcamos um retorno à pediatra. Neste período, foi prescrito a inalação com broncodilatadores e mais corticoides, todos com pouco (ou nenhum) resultado. Neste período eu também comecei a apresentar os mesmos sintomas de tosse persistente. Eu e a minha mulher já desconfiávamos que poderia ser coqueluche, mas médico algum dava diagnóstico preciso, se limitando a responder que era uma "tosse alérgica". Uma das médicas, quando questionada de poderia ser coqueluche, fez-se rir e disse que a doença estava erradicada, e que se fosse o caso, seria necessária uma
traqueostomia. A chapa do pulmão não indicava anormalidades.
Uma noite antes do retorno à pediatra, novamente a minha filha teve um surto de tosse no qual ela perdia o ar e ficava desesperada para respirar, como com a garganta obstruída (o tal guincho da coqueluche). Levamos ela novamente ao pronto socorro, quando a médica finalmente nos passou um encaminhamento para a vigilância epidemiológica, para a confirmação do diagnóstico de coqueluche. No dia seguinte, a pediatra confirmou o diagnóstico e passou a tratar a minha filha com claritromicina (14 dias!), além de pedir alguns exames para alérgenos, refluxo esofágico e hemograma. Neste ínterim minha tosse só foi piorando e frequentemente eram acompanhadas por uma dor de cabeça excruciante, vindo da nuca até as têmporas. Após a tosse, a dor gradativamente desaparecia.
Minha filha passou a ter cerca de 4 à 5 episódios de noturna e mais uns 3 à quatro episódios durante o dia. A tosse promovia fechamento da garganta (glote) e vômito (chamada tosse paroxística). Após 8 dias, os surtos passaram a melhorar pouco à pouco. Com a vinda de chuva e frio, as tosses retornaram um pouco mas mais fracas, e agora ela apresenta surtos mais fracos cerca de 1 a 3 vezes ao dia.
Nesta fase, fui ao médico também. Me foi prescrito um antibiótico (azitromicina, com a dosagem de 1 g por dia, por 5 dias) e também fui encaminhado para a vigilância epidemiológica. Apresentei, na semana passada, cerca de 3 surtos de tosse paroxítica ao dia. Só aí eu presenciei o sofrimento que minha filha estava passando, somente nisso que eu descobri o que é o martírio da "tosse paroxítica".
Cada surto, que se apresenta repentinamente, consiste de 4 a 8 tossidas gradativamente menores, em uma única inspiração, sendo que todo o ar que tinha nos pulmões se vai. Na falta de ar, a garganta só deixa passar uma parte do ar, o que produz o tal "guincho", que é uma sensação horrorosa de se respirar e não conseguir. Parte do pouco ar que passa, ao invés de ir aos pulmões, vai para o estômago o que contribui ainda mais para a sensação de sufocamento. Este ar sai como uma eructação (arroto) que faz tossir ainda mais, isso quando este ar não estimula o vômito. Como as fossas nasais enchem de muco, não dá para respirar tampouco pelo nariz. Somente depois de uns 30 segundos a respiração se torna possível. Hoje pela madrugada tive um desses acessos horríveis (acho que o pior), vomitei sangue e apresentei
petéquias em torno dos olhos, o que me deixou desesperado (pensei que fosse uma
hemoptíse) mas quando fui ao pronto socorro o médico me disse que o sangue tinha sido de minha garganta. Em minha filha, os episódios dessa tosse eram sucedidos por uma prostração e
cianose.
Ao contrário do que se pensa, tanto eu como minha filha fomos vacinados contra essa doença, conforme o calendário de vacinação, que seguimos rigorosamente. Só fica a dúvida quanto a eficiência desta vacina, visto que os casos de coqueluche, tanto em adultos como em crianças, está aumentando nos últimos anos.
Vou voltar a escrever mais sobre este tópico, como estamos encarando e também algumas reflexões sobre a saúde no Brasil. Espero que seja útil!
Links
Coqueluche: Causas e Sintomas
migre.me/8SAN7
migre.me/8SATQ